É na época baixa que se conhece a verdadeira essência de Porto Covo
É um facto que Porto Covo ocupa um lugar especial no imaginário de todos quantos ouviram a célebre canção que Rui Veloso e Carlos Tê lhe dedicaram em 1986. O nome do lugar tem origem na sua própria forma topográfica: “covo” significa “côncavo” ou “fundo”. Esta característica levou a que, no século XVIII, o burguês Jacinto Fernandes Bandeira transformasse a enseada num porto de embarque de carvão para abastecer, sobretudo, a Grande Lisboa. Além do porto, Jacinto Fernandes Bandeira lançou-se na edificação de uma povoação de raiz.
A aldeia localiza-se a 175 quilómetros da capital, em pleno litoral alentejano, e conjuga falésias com praias de uma beleza agreste. Lá, a povoação é acolhedora, composta pelas tradicionais casas com paredes de cal, tendo tido como inspiração a arquitetura pombalina. Realmente, a traça oitocentista mantém-se quase intacta no centro da aldeia, no Largo Marquês de Pombal, um dos lugares mais emblemáticos da zona.
Com cerca de mil habitantes, a aldeia vê a população quintuplicar no verão com a chegada dos turistas. Mas, é na época baixa que se consegue sentir a verdadeira essência do lugar. Por lá, fora da época estival, respira-se tranquilidade, contacta-se com os locais de perto e conhece-se a alma porto-covense.
É impossível falar de Porto Covo sem falar da Ilha do Pessegueiro, que nunca teve por lá um pessegueiro. A origem do nome da ilha vem do latim “piscatorius”, pela sua tradição ancestral romana da salga do peixe. Na ilha, encontram-se ainda vestígios dessa ocupação e é possível vê-los com os nossos próprios olhos. Mas apenas se pode visitar a ilha na companhia do Mestre Matias, uma vez que é a única pessoa com autorização para tal.
A Ilha do Pessegueiro e o Forte de Nossa Senhora da Queimada são lugares de paragem obrigatória para quem não dispensa conhecer a fundo a história local.
Para os amantes de natureza, o Trilho dos Pescadores da Rota Vicentina proporciona as melhores vistas e um enorme contacto com as maravilhas naturais, por caminhos usados pelos próprios pescadores e gentes da terra. Já para os apaixonados por animais, o Monte da Bemposta tem atividades como os passeios a cavalo, uma autêntica terapia.
Ex-líbris gastronómico
Mas os encantos deste lugar à beira-mar plantado também se estendem à gastronomia: os “Vasquinhos”, doce típico da região, o mel, o pão e o vinho alentejanos são alguns dos ex-líbris de Porto Covo.
No que toca à mesa principal, o restaurante Lamelas, que entrou para o Guia Michelin Ibérico em 2024, destaca-se pela fusão de uma visão gastronómica contemporânea com os sabores mais tradicionais do Alentejo. Nesta cozinha, a abrótea é a estrela da companhia e os amantes de peixe certamente não lhe irão resistir.
É quando o ritmo abranda e o ruído do verão se dissipa que Porto Covo se deixa conhecer sem pressa. As ruas ganham outra cadência, o mar fala mais alto e os gestos tornam-se ainda mais próximos. Longe das multidões, cada detalhe parece mais nítido: da arquitetura às conversas demoradas, dos trilhos costeiros à mesa partilhada. Talvez seja mesmo neste tempo suspenso, em que o lugar se mostra sem artifícios, que Porto Covo revela o seu encanto mais genuíno.