Investigadoras portuguesas estudam "tecnologia revolucionária" para desvendar crimes sexuais
Nádia Pinto e Catarina Xavier são investigadoras do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S). Neste momento, participam num projeto europeu na área da medicina legal e genética forense, que tem como objetivo criar uma tecnologia de perfilagem de ADN que permita desvendar crimes sexuais, mesmo os mais complexos.
O projeto, a cargo do CapCell, um dos maiores consórcios europeus na área da investigação em medicina legal e genética forense, tem uma verba de 4,5 milhões de euros
O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto é uma das 13 instituições participantes. Nádia Pinto e Catarina Xavier, investigadoras do i3S, estão encarregues de analisar e interpretar dados forenses, no âmbito da segurança civil.
Conseguir distinguir o ADN da vítima do ADN do agressor pode ser fundamental para o desfecho de um caso de agressão sexual em tribunal.
Os métodos forenses atuais têm limitações: “Não permitem, por exemplo, analisar vestígios biológicos de mais do que uma pessoa de forma fiável, o que dificulta a apresentação de provas em tribunal”, explica Catarina Xavier. Muitos casos acabam, por isso, arquivados.
O objetivo deste projeto é conseguir separar e ler o ADN de duas ou mais pessoas “de forma limpa e fiável”, descreve a investigadora. “A ideia é fazer uma análise unicelular para garantir que achamos um perfil único, sem misturas biológicas”, ou seja, um meio de prova difícil de refutar perante um juíz.
A nova tecnologia pode permitir resolver casos complexos, em que, até aqui, não se conseguia ter 100% de certeza quanto à identificação do agressor.
Crimes sexuais na Europa
De acordo com o Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE), um terço das mulheres na UE (31%) indicou ter sido vítima de violência física e/ou sexual por parte de um agressor.
Os resultados desta investigação europeia, com participação portuguesa através do i3S, devem estar concluídos nos próximos quatro anos.
Dos 4,5 milhões de financiamento global, o instituto da Universidade do Porto, vai receber uma fatia de 200 mil euros.
A investigação ainda está numa fase inicial, mas Catarina Xavier tem esperança de que, mais à frente, “os resultados científicos alcançados permitam chegar a uma tecnologia revolucionária na área da genética forense”. Socialmente, a investigadora portuguesa não tem dúvida de que o “impacto pode ser muito positivo”, contribuindo “para uma Europa mais segura”.